Mais da metade do desmatamento associado às exportações de commodities agrícolas está ocorrendo em menos de 5% das regiões produtoras

2 Jul 2020

Novo levantamento da Trase releva os municípios, biomas, empresas e países importadores com os maiores impactos ambientais, indicando onde os esforços devem ser direcionados para reduzir o desmatamento associado à produção de commodities como carne e soja na Amazônia, Cerrado e Gran Chaco

Oxford, Reino Unido (2 Julho 2020) — O Anuário 2020 da Trase identifica e analisa os principais hotspots, empresas e mercados consumidores associados ao desmatamento em florestas tropicais relacionados ao comércio global de soja, carne e frango brasileiros; soja argentina; soja e carne bovina paraguaia e óleo de palma da Indonésia.

“Nossos dados apontam os pontos críticos do desmatamento vinculados à produção e exportações de commodities agrícolas e mostram repetidamente que o problema está concentrado em um conjunto pequeno de fornecedores e lugares. Esses achados são únicos e bastante significativos, pois indicam os focos de ação para empresas, governos e investidores, que podem catalisar e direcionar atenção, engajamento e investimento onde é mais necessário”, afirma Toby Gardner, diretor da Trase.

O Anuário 2020 da Trase mostra que entre 50% e 70% de todas as exportações de soja, carne bovina e óleo de palma produzidos no Brasil, Paraguai, Argentina e Indonésia foram dominados por cinco exportadores de cada mercadoria.

As empresas ABCD - Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Company - foram responsáveis por 53% da exportação da soja produzida no Brasil, Argentina e Paraguai.

Pela primeira vez, os dados também revelam como mais da metade do
desmatamento associado a essas três commodities agrícolas comercializadas ocorre em 5% ou menos da área total em que os produtos são produzidos. As exportações desses produtos agrícolas são destinadas a mercados específicos na Europa, mas cada vez mais na China e em mercados emergentes, como Rússia, Índia e Indonésia.

Além da Amazônia brasileira, os hotspots identificados pela Trase estão em biomas que ainda recebem pouca atenção, como o Cerrado brasileiro e as florestas secas do Gran Chaco da Argentina e do Paraguai. Embora os principais países importadores de soja e carne bovina estejam associados aos maiores impactos, aqueles que obtêm commodities desses hotspots têm pegadas de carbono que podem ser até dez vezes maiores que os demais mercados.

O Anuário 2020 revela ainda que, enquanto a União Europeia (UE) importa menos soja que a China e adotou um número maior de compromissos voluntários de combate ao desmatamento, suas importações na última década estão ligadas a mais desmatamento por tonelada. A pegada de carbono das importações de soja para a Espanha - o maior consumidor de commodities da Europa - é, por tonelada, seis vezes maior que a da China, o maior país comprador de soja, carne e óleo de palma produzido em florestas tropicais ao redor do mundo.

De acordo com o levantamento, em 2018, a expansão de pastagens para produção de carne bovina foi responsável por 81% do desmatamento na Amazônia brasileira, 54% no Cerrado e 95% no Gran Chaco paraguaio.

Vários outros achados do anuário reforçam a alta concentração dos impactos ambientais, entre os quais:

  • Apenas 3% dos 2.803 municípios produtores de carne bovina no Brasil são responsáveis por mais da metade do desmatamento associado à exportação de carne bovina.
  • As exportações de carne bovina do Paraguai estão ligadas a mais de nove vezes o desmatamento que as exportações da Amazônia brasileira.
  • As exportações de gado vivo, produzido no Pará e enviado para os mercados halal no Oriente Médio, estão associadas a quase cinco vezes mais desmatamento que as exportações de carne fresca.
  • As exportações brasileiras de carne bovina estão ligadas a mil vezes mais desmatamento que as exportações brasileiras de frango, embora as exportações de soja para ração animal permaneçam ligadas a altos níveis de desmatamento no Brasil, especialmente no Cerrado.

O Anuário 2020 da Trase conclui que, em média, as empresas com compromissos voluntários de desmatamento zero ainda não se diferenciam das que não adotaram tais compromissos. A maioria das exportações de carne bovina ainda não está coberta por nenhum compromisso de desmatamento zero.

“Em muitos países, a taxa de desmatamento agrícola diminuiu em relação aos anos de pico na década passada. Mas a falta de progresso na implementação de compromissos de desmatamento zero e os recentes aumentos de desmatamento em alguns biomas, incluindo a Amazônia brasileira, sublinham quão frágeis são esses ganhos. Empresas e governos precisam fortalecer a implementação dessas iniciativas. Os dados do Trase aprimoram substancialmente nossa capacidade de avaliar a eficácia dos esforços de implementação”, destaca Helen Bellfield, editora do Anuário e líder da Trase na Global Canopy.

Serviço:

O Anuário Trase 2020 será lançado em 2 de julho de 2020, mas o resumo
executivo, em inglês, pode ser acessado aqui.

A Trase realizará um webinar no dia 2 de julho, quinta-feira, às 10h de Brasília, para apresentar as principais conclusões e discuti-las com palestrantes convidados - Francis Seymour (WRI), Debora Dias (The Consumer Goods Forum), Nicole Polsterer (Fern) e Alice Thuault (ICV).

A Trase é uma plataforma de informações que usa uma abordagem única e
inovadora, combinando dados alfandegários, marítimos, tributários, logísticos, entre outros, para conectar os impactos ambientais de regiões de produção, via empresas exportadores, a países importadores.

Desenvolvida por meio de uma parceria entre o Stockholm Environment Institute (SEI) e a organização não-governamental Global Canopy, a iniciativa é voltada à transparência dos impactos ambientais das cadeias globais de commodities agrícolas produzidas em florestas tropicais. Mais detalhes em www.trase.earth.

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